No tempo em que eu era guri e morava no Cariri(1) com uma fome danada, olhava mas
só via capim.
Jogava meu olhar à distância e naquela imensidão uma grande
seca sem fim.
O meu pai falava com mamãe assim: Tereza esse vai ser nosso fim, o único
jeito que tem é ir embora do Cariri(2).
Eu não podia ouvir estas palavras que meus olhos enchiam de água,
sabia que dali se ia mas nunca podia voltar.
E o meu pé de juá? Que nele eu gostava de brincar. Meu Deus faça
chover nesse lugar.
Mas quando eu pensava no meu irmão Antoninho que ali tinha morrido porque
não tinha do que se alimentar.
Mas um dia nosso caso teve solução, chegou um homem de caminhão
e com papai foi falar. Falava de um MST, eu estava distante não dava para
entender.
Depois que o homem saiu, eu e mamãe fomos perguntar do que o moço
falava. Meu pai disse, do MST.
MST! Nós nos espantamos, o que danado é isso? Papai foi nos explicar.
Mas com duas semanas depois saímos daquele lugar e uma fazenda fomos ocupar.
Adeus Cariri, e nos barracos fomos penar. Enfrentamos sol, chuva, polícia,
fomos despejados, ia para lá e vinha para cá.
Mas um dia isto mudou, ganhamos terra, começamos a plantar. A felicidade
é tanta que nem lembro daquele lugar, muito menos do pé de juá.
Aqui nós temos de tudo, roça, escola, creches, posto de saúde
e até parque para brincar.
Mais se o leitor duvidar da força do MST
Só entrando na luta que você vai ver
Todo mundo feliz com razão para viver.
1. Cidade nas região muito árida do sertão nordestino no estado
do Ceará.
2. A criança se refere aqui ao conhecido fenômeno dos retirantes do
Nordeste.
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